Estudos recentes evidenciam que entre 40 a 80% das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam alterações de sono. Já nas crianças neurotípicas (ou seja, que não têm TEA) uma faixa somente entre 10 a 16% possui essa alteração. Por isso, é muito interessante sabermos um pouco mais sobre este assunto: o sono no autismo (TEA).
Com bastante frequência, as queixas são: inquietações; dificuldade em adormecer; rotinas de sono inconsistentes; agitação ou má qualidade do sono e acordar cedo.
Em certos casos, os distúrbios do sono podem até mesmo agravar algumas características do autismo, como, por exemplo, o comportamento repetitivo.
Este, por sua vez, pode tornar o ato de dormir ainda mais difícil e pesado para a criança autista.
No entanto, crianças com melhor qualidade do sono parecem aprender com mais facilidade, são menos irritáveis e possuem menos problemas de comportamento. Ou seja, uma boa noite de sono é fundamental para a criança e sua família, já que todos acabam sendo afetados.
Quais fatores causam distúrbios do sono em crianças autistas?
Existem diversas teorias para justificar tal questão.
Ausência de sinais sociais. Todos sabem quando é hora de ir dormir à noite. Isso graças aos ciclos normais de claro e escuro e os ritmos circadianos do corpo, que tem período de 24 horas.
Sinais sociais podem ser as crianças vendo seus irmãos e pais se preparando para dormir e perceber que também devem fazer isso. Já as crianças com autismo, que muitas vezes têm dificuldade de comunicação, podem interpretar mal ou não conseguem compreender esses sinais.
Teoria do hormônio melatonina, que regula os ciclos de sono-vigília. Para produzir a melatonina, o organismo necessita de um aminoácido, triptofano, que pesquisadores encontraram em níveis alterados em crianças com autismo.
Normalmente, os níveis de melatonina aumentam em ambientes escuros (à noite) e caem de dia.
Alguns levantamentos demonstram que algumas crianças com autismo não liberam melatonina nos momentos certos do dia e podem, inclusive, apresentar inversão desse ciclo
Crianças autistas podem ter dificuldade em adormecer ou acordar no meio da noite por um aumento da sensibilidade aos estímulos externos, tais como toque ou som. Isso as crianças neurotípicas não percebem por às vezes se tratar de estímulos muito sutis.
Crianças com TEA passam menos tempo do seu sono na fase conhecida como REM, ou “movimento rápido dos olhos”, essencial para o aprendizado e a retenção de memórias.
Existe, ainda, uma relação direta entre a gravidade do autismo e a severidade do distúrbio de sono, ou seja, quanto mais grave o TEA (Transtorno do Espectro Autista) mais intensos e frequentes são os problemas do sono.
Além disso, quando a criança no TEA apresenta comorbidades psiquiátricas, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), comportamento impulsivo, transtorno de ansiedade, de conduta ou transtorno opositor desafiante, o risco de distúrbios de sono também aumenta bastante.
Manejo e tratamento
“Na verdade, falamos sempre da ‘Higiene do Sono’ que é fundamental para qualquer pessoa ter uma boa noite de sono, seja ela adulto ou criança, TEA ou neurotípico”, explica a psiquiatra Danielle H. Admoni, colaboradora da Clínica de Pediatria Toporovski.
A especialista faz diversas recomendações.
Evite dar estimulantes às crianças, como cafeína e açúcar, perto do horário de dormir, ou refeições pesadas a noite (por exemplo ingestão de feijão que pode gerar gases e dificultar o sono);
Evite, da mesma forma, televisão, videogames, celular ou qualquer atividade estimulante antes de dormir. E também ruídos ou estímulos sonoros;
Impeça, ainda, distrações sensoriais no período noturno: cortinas pesadas nas janelas do quarto da criança para bloquear a luz; tapetes grossos e portas que não rangem, ajudam a diminuir os estímulos para despertares de madrugada em crianças com TEA que são mais sensíveis a esses estímulos;
Estabeleça uma rotina noturna para a criança para que, desde pequena, ela compreenda que essa rotina significa relaxar e dormir em seguida;
Pode ser um bom banho, contar uma história e colocá-la na cama, estabelecendo sempre o mesmo horário, todas as noites, independente do dia da semana que for;
Uma massagem suave nas costas da criança ou uma música leve podem ajudar também.
Ou seja, deixe o ambiente confortável e silencioso, dependendo da necessidade de cada criança.
Diminua a toda luz do ambiente, isso é fundamental para liberação de melatonina, hormônio responsável por iniciar o sono à noite.
Alguns estudos observaram que a utilização de melatonina isolada ou associado à Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) foi provavelmente efetivo ou apenas a TCC.
Dicas sobre o sono no autismo (TEA)
“Sem dúvida alguma, adotar estratégias comportamentais devem ser o tratamento de primeira linha, de forma isolada, ou associada à utilização de melatonina”, afirma a médica e psiquiatra geral.
“Sendo assim, crianças com TEA apresentam maior dificuldade no sono, levando a outras alterações comportamentais”, diz ela.
“O manejo, em geral, é o mesmo que seria para crianças sem TEA”, finaliza.
Clínica de Pediatria Toporovski: (11) 3821-1655
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