Já estamos enfrentando a pandemia do coronavírus aqui no Brasil há pelo menos 9 meses. Uma questão que os pais sempre se perguntaram neste período é: crianças são infectadas pelo Covid-19?

Por causa do grande aumento de casos do Covid-19 e do grande medo da segunda onda que está se instalando, fica sempre a grande preocupação quanto ao papel das crianças nesse cenário.

Qual risco das crianças contraírem a doença? Elas são mesmo portadores e transmissores da doença na família? Devo mandar meus filhos para a escola ou é melhor não?

Por estas e muitas outras dúvidas e medos que atingem a população, um grupo de pediatras do estado de São Paulo se reuniram embasados em dados científicos e não em suposições para responder a essas demandas.

As crianças são infectadas pelo Covid-19? Elas são assintomáticas?

“As crianças se infectam menos que os adultos, na verdade, de 2 a 5 vezes menos, sendo esse risco menor ainda quanto mais nova for a criança”, afirma a pediatra Sarah Shamay.

“E mesmo quando são infectadas, a maioria das crianças são assintomáticas ou apresentam sintomas muito leves, sendo muito raras as complicações”, diz a consultora da área de imunoalergia da Clínica Pediátrica Toporovski.

A Dra Sarah Shamay e o Dr Mauro Toporovski: a grande maioria das crianças têm apresentado sintomas leves da doença
A Dra Sarah Shamay e o Dr Mauro Toporovski: a grande maioria das crianças têm apresentado sintomas leves da doença

 

“Realmente temos vivenciado, desde o mês de março, dezenas de famílias que contraíram o vírus da Covid-19”, explica o Dr Mauro Toporovski, pediatra.

“Quase todas as crianças atendidas têm apresentado sintomas leves, em geral, por poucos dias e de menor intensidade, quando comparado aos casos de influenza A ou B”, diz o médico, coordenador da clínica.

“Os pais desses pacientes, em geral jovens e não portadores de comorbidades, também vêm apresentando, quadros leves ou moderados”, afirma.

As crianças são disseminadoras da doença? 

“Não, em geral, as crianças não são importantes disseminadores da doença”, diz o Dr.Mauro.

Ao contrário do que se suspeitou no início da pandemia, as crianças pequenas não são disseminadores da doença, e em geral são infectadas por adultos da própria família.

Em alguns estudos, confirmou-se serem os adultos a fonte da infecção para as crianças e demais familiares.

“Nesse contexto, há famílias em que não há riscos epidemiológicos maiores sendo os contactuantes saudáveis. Ou seja, indivíduos que têm contato com pessoas doentes mas que estão saudáveis”, afirma o médico.

“Entretanto, há casos de adultos familiares de convívio muito próximo portadores de doenças mais graves (diabetes, cardiopatias, neoplasia, etc..) e em tratamento com drogas que diminuem a imunidade”, explica.

“Exatamente para essas situações específicas que deve-se tomar todo cuidado para prevenir o contágio”, esclarece o médico.

Menina usando máscara contra a Covid-19: crianças são infectadas pelo Covid-19
Menina usando máscara contra a Covid-19: crianças são infectadas pelo coronavírus

As escolas são locais de maiores taxa de infecção?

Em geral, não! A experiência europeia mostrou que se a escola segue os cuidados indicados, ela não é um local de maior infecção.

Com as medidas preventivas, a escola é relativamente segura também para os professores e funcionários.

Em diversos estudos estrangeiros, demonstra-se que as crianças foram infectadas mais em casa, através dos próprios familiares, do que na escola. 

Quais prejuízos o isolamento social traz para as crianças?

“Os transtornos no desenvolvimento infantil e na saúde mental são imensos e duradouros”, afirma a dra Sarah Shamay.

“Entre eles obesidade, transtornos de ansiedade, transtorno do sono, danos pelo uso excessivo das telas, atrasos no desenvolvimento, afastamento do convívio social e familiar, falta ou atraso vacinal, aumento do risco de sedentarismo, entre outros”, diz a médica.

“Há famílias que ao enfrentarem esse problema do confinamento das crianças puderam oferecer atividades para as mesmas, fora da área residencial, saindo então de São Paulo e passando vários dias da semana em casas de campo ou de praia”, afirma o Dr Mauro.

“Esses espaços abertos e atividades ao ar livre compensaram, de certa forma, os problemas oriundos do isolamento por tantos meses”, constata o médico.

“Em contrapartida, aqueles que não tiveram essas oportunidades, apresentaram com frequência alterações do comportamento, sono e obesidade, conforme descrito pela Dra Sarah”, diz o pediatra.

Qual a programação de vacinação para a população pediátrica?
Menina caminha por rua usando máscara em proteção ao Coronavírus: vacina para as crianças não é uma realidade para curto e nem médio prazo
Menina caminha por rua usando máscara em proteção ao Coronavírus: vacina para as crianças não é uma realidade para curto e nem médio prazo

Os testes clínicos que estão em andamento, na maioria dos laboratórios, contemplaram adolescentes e adultos.

A vacina produzida pela Universidade de Oxford e AstraZeneca foi a única a incluir crianças entre 5 a 12 anos.

No Brasil, entre os testes clínicos autorizados pela ANVISA, a faixa etária é a partir de 16 anos. Ou seja, vacina para as crianças não é uma realidade para curto e nem médio prazo.

Como a pandemia ainda seguirá por um longo período, devemos proteger corretamente as crianças e dentro do contexto familiar e seguro deixar as crianças voltarem à rotina escolar.

Recomendações para as crianças 

“Para essa volta, é importante tomar os seguintes cuidados”, enumera a pediatra Sarah Shamay.

Não devem ser compartilhados objetos pessoais, pois estudos comprovaram que o novo coronavírus pode sobreviver em diversos tipos de objetos e superfícies;

Devemos orientar as crianças sobre a importância do uso da máscara e da troca da mesma com frequência, além de ensinar a não colocar a mão na boca quando tossir e sim usar a dobra do antebraço ou lenço descartável;

Não tocar olhos, nariz, boca ou a máscara de proteção quando a mão não tiver higienizada.

Manter distância mínima de 1 metro entre pessoas em lugares públicos e de convívio social.

Não se deve cumprimentar as pessoas com beijos, abraços e apertos de mãos, mesmo que não estejam com sintomas, pois podem estar no período de incubação da doença, que pode demorar até 14 dias da infecção até o início do quadro clínico;

Lavar sempre as mãos com água e sabão ou quando, impossibilitados disso, usar o álcool em gel a 70%;

Higienizar todos os objetos que tiverem contato, inclusive as compras de mercado e comida por delivery, celulares, brinquedos das crianças;

Manter sempre os ambientes limpos e bem ventilados;

Evitar lugares aglomerados, festas, restaurantes e bares que estejam muito cheios;

“Esses protocolos são em geral de difícil cumprimento em sua maioria, com melhor assimilação das instruções para crianças maiores e adolescentes”, diz o Dr. Mauro Toporovski.

“As crianças menores e que não cumprem grade curricular no retorno do convívio com os amiguinhos e colegas, passa a ser igualmente importante para as mesmas”, explica.

“Pode-se então programar atividades rodiziadas em pequenos grupos, observando-se assim a ocorrência de sintomas de doença das vias respiratórias ou condições febris”, encerra o pediatra.  

 

 

 

Clínica de Pediatria Toporovski (11) 3821-1655.

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