Essa é uma queixa comum nos consultórios de pediatria: o meu filho não come!
Neste caso, cabe ao pediatra identificar se realmente existe um problema e o que deve ser feito para solucionar a questão.
O primeiro dado a ser considerado na avaliação dessa criança é verificar como está o desenvolvimento da mesma quanto a curva de peso para idade e também altura para idade.
Muitas vezes a família afirma: “meu filho não come nada, nada,…e o paciente em questão está em ótimo estado nutricional. Como isso pode acontecer?
Por volta dos 2 anos de idade, é comum que haja lactentes que deem preferência à dieta láctea, ou seja ingerem entre 3 a 4 mamadeiras de leite durante o dia e, às vezes, mamam de madrugada.
Com isso, há pouco espaço para sentirem fome. Muitas refeições desse tipo acabam diminuindo demais o apetite. Porém, a criança estará bem e com peso adequado.
Essa situação tão comum nos consultórios expõe a criança a algum risco nutricional?

A resposta é sim, pois a dieta seguramente será pobre em ferro, predispondo a ocorrência de anemia.
Da mesma forma, essa dieta será igualmente pobre em fibras, fazendo com que as fezes fiquem secas e ressecadas, determinando constipação intestinal, em muitos casos.
Entre 2 a 3 anos de idade, a criança desacelera a velocidade do crescimento e do ganho ponderal, e não apresenta aquela mesma prontidão alimentar de querer comer a cada 3 ou 4 horas de quando era bebê.
É comum as mães se queixarem: nossa, meu filho comia tão bem e agora está muito chato para terminar o seu prato. Levanta da mesa, sai para brincar, fica enrolando um tempão com o alimento na boca, a refeição não termina nunca!
Horário fixo de refeição é importante!
Deste jeito, passa a ser importante na orientação para os pais fixar os horários de refeição.
O café da manhã tem que ser consumido cedo; evitar lanches no intervalo matinal, para que esteja com fome na hora de almoçar.
Assim sendo, completa-se as refeições com um pequeno lanche durante a tarde e jantar à noite.
Não é necessário fazer mais uma refeição tarde da noite: isso prejudica a aceitação alimentar durante e o dia.
Ou seja: é fundamental organizar o horário das refeições
Os pratos para as crianças comerem devem ser bem elaborados; a comida deve ter um sabor natural e feita com temperos caseiros leves.
Os pais devem oferecer porções equilibradas e não muito volumosas.
Se a criança apresenta alguma dificuldade para se alimentar, um prato muito volumoso faz com que ela, muitas vezes, desista de comer.
Devem ser oferecidas, portanto, pequenas porções, aumentando gradativamente à medida que a criança termine o prato.
Para cada grupo alimentar que a criança não aceita, deve ser ofertado o mesmo tipo de alimento, pelo menos 8 a 10 vezes durante algum tempo antes de se afirmar: meu filho não come verdura ou legume de jeito nenhum!
Algumas crianças são muito seletivas e têm dificuldades em experimentar novos sabores e texturas de alimentos. É comum as mães afirmarem: meu filho só come purês!
Se tiver pequenos pedaços, tem preguiça de mastigar.
Sem dúvida alguma, isto exige paciência e um treino gradativo de oferta para solucionar esse problema.
Quando a recusa é persistente e se afasta a possibilidade de doenças digestivas que possam estar afetando o apetite das crianças, a família, junto ao pediatra, deve buscar outros profissionais para fazer uma terapia cognitiva comportamental, para estabelecer um programa de oferta de uma nova lista de alimentos que se deseja inserir na dieta alimentar.
Aparelhos eletrônicos devem estar desligados na hora da refeição

Muitas vezes pede-se aos pais que façam as refeições com os filhos e comam e ofereçam esses alimentos durante a refeição. Os pais devem estar próximos a criança estimulando as mesmas, portanto televisão, celulares e tablets, notebooks, entre outros aparelhos eletrônicos devem ser desligados.
Também é indicada uma consulta com uma nutricionista devido a restrição dos alimentos que poder causar má nutrição ou déficit de algum tipo de nutriente.
Deve ser elaborado um plano nutricional individualizado, com a possibilidade de usar suplementos com fórmulas para oferecer as calorias que seu corpo precisa.
Quais distúrbios alimentares podem existir na infância?
Apesar de não ser muito comum, existem alguns distúrbios alimentares que podem fazer a criança comer apenas determinado tipo de alimento, como purê ou mingau, numa determinada temperatura específica. São eles:
Distúrbio da alimentação restritiva ou seletiva
Esse é um tipo de transtorno alimentar que geralmente surge na infância ou adolescência, mas que também pode persistir na vida adulta.
Neste distúrbio, a criança limita a quantidade de alimentos ou evita seu consumo com base na sua experiência, cor, aroma, sabor, textura e apresentação.
Os principais sinais e sintomas desse transtorno são:
Falta de apetite e desinteresse pela comida;
Só comer certas texturas de comida;
Restrição dos tipos e da quantidade de alimentos ingeridos;
Perda de peso importante ou dificuldade para chegar ao peso ideal, segundo sua idade;
Seleção de alimentos muito restritiva, que pode ir piorando com o tempo;
Não há alteração da imagem corporal ou medo de aumentar de peso como ocorre na anorexia;
Medo de comer depois de um episódio de vômito ou engasgamento;
Presença de sintomas gastrintestinais como mal-estar estomacal, prisão de ventre ou dor abdominal.
Estas crianças tendem a ter problemas no relacionamento com outras pessoas devido aos seus problemas alimentares e podem ter deficiências nutricionais significativas que afetam seu crescimento e desenvolvimento, assim como seu desempenho na escola.
Distúrbio do processamento sensorial

Este transtorno é uma condição neurológica onde o cérebro tem problemas em receber e responder adequadamente à informação que vem dos sentidos como tato, paladar, cheiro ou visão.
A criança pode ser afetada em apenas um ou vários sentidos, e por isso uma pessoa com esse transtorno pode responder exageradamente a um estímulo, sendo insuportável o som, a roupa, o contato físico, a luz e inclusive a comida.
Quando o paladar é afetado a criança pode apresentar:
Hipersensibilidade oral
Neste caso, a criança tem preferências extremas de comida, com uma variação de alimentos muito pequena, pode ser exigente com as marcas, resiste a provar novas comidas em restaurantes e não pode comer na casa de outras pessoas, evitando comidas condimentadas, picante, doces ou saladas.
É possível que só coma alimentos de consistência branda, purê ou líquida, depois dos 2 anos de idade, podendo estranhar os alimentos com outras texturas. Também pode ter dificuldade para chupar, mastigar ou engolir com medo de engasgar.
E pode resistir ou recusar ir ao dentista, queixando-se do uso da pasta de dente e enxaguante bucal.
Hiposensibilidade oral
Nesta situação, a criança poderá preferir os alimentos com sabor intenso como os excessivamente picante, doce, agridoce ou salada, sentindo inclusive que a comida não tem tempero suficiente.
E pode dizer que todos os alimentos tem o ‘mesmo sabor’.
Também é possível que mastigue, prove ou lamba objetos não comestíveis, comendo o cabelo com frequência, a camisa ou os dedos. Ao contrário da hipersensibilidade oral, pode gostar de escovas de dente elétricas, gostar de ir ao dentista e babar excessivamente.
O que fazer para que seu filho coma um pouco melhor?
O Dr Mauro Toporovski recomenda os seguintes conselhos práticos para fazer com que seu filho coma maior variedade de alimentos ou em maior quantidade.
“Ofereça alimentos novos preferencialmente quando a criança tem fome, porque serão de melhor aceitação. Para que a criança aceite novos alimentos, deve-se tentar que ela coma estes alimentos, não desistindo antes de tentar cerca de 8 a 10 vezes, em dias diferentes”, afirma o pediatra.
“Combine os alimentos preferidos com os rejeitados. O tempo para comer não deve ser menor que 20 minutos e nem maior do que 30 minutos.
Esse é o tempo suficiente para que a criança reconheça a sensação de saciedade do seu organismo”, explica o especialista.
“A criança normalmente come melhor se escolher alguns alimentos da refeição, pelo menos 2. Evite que ela beba muitos líquidos imediatamente antes das refeições. Se ela não quiser comer, não se deve colocar de castigo, porque isso reforça a conduta negativa. Deve-se retirar o prato e a criança pode sair da mesa, mas na próxima refeição deve-se oferecer uma alimentação nutritiva”, reforça o médico.
“É importante que a criança e a família estejam sentados na mesa, tranquilamente, sendo importante ter horários fixos para as refeições. Leve a criança para comprar a comida no mercado e ajude na escolha e preparação das refeições e como é servida. Leia contos e histórias sobre alimentos”, aconselha o Dr Mauro, responsável pela disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Dicas de nutricionista
A Dra Vanessa Castro Rodrigues, nutricionista e colaboradora da Clínica de Pediatria Toporovski recomenda o seguinte.

Clínica de Pediatria Toporovski (11) 3821-1655
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