A obesidade infantil é caracterizada por excesso de gordura corporal em crianças de até 12 anos de idade.
O diagnóstico pode ser feito, inicialmente, apenas pelo aspecto visual.
Falamos em sobrepeso, quando visualizamos uma criança “gordinha” ou mais pesada; e dizemos obesa quando esse aspecto é mais pronunciado.
Do ponto de vista médico, são usados os parâmetros de peso para altura e calculamos o IMC (índice de massa corpórea).
Considera-se a referência média de adequação de peso/altura quando o IMC situa-se na faixa de 50%; quando detecta-se uma inadequação, acima de 85%, falamos em sobrepeso; acima de 95% é considerada obesidade.
Se os pais são obesos há maior risco de obesidade entre os filhos?
Há fatores genéticos que regulam o nosso relógio metabólico, cuja herança é difícil de ser entendida. De qualquer forma se um dos pais é obeso, a chance de obesidade entre os filhos é em torno de 25-40%.
Porém, se ambos os pais são obesos, a chance de filhos igualmente obesos é da ordem de 75-80%.
É alto o predomínio de obesidade hoje em dia?
A obesidade infantil ganhou o status de epidemia, por causa do aumento do número de crianças obesas em todo o mundo. Hoje ela é considerada um grave problema de saúde pública.
No Brasil, segundo o IBGE, uma em cada três crianças, de cinco a nove anos de idade, estão acima do peso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a Imperial College de Londres, concluiu em um estudo que, em 2022, teremos mais crianças obesas do que abaixo do peso no mundo.
Crianças de famílias em piores condições econômicas tem mais chances de se tornarem obesas?
Diversos estudos em países em desenvolvimento mostravam maior ocorrência de obesidade nas populações de maior renda.
Observa-se, entretanto, nos últimos anos, o predomínio nas taxas de obesidade quando compara-se a classe econômica das famílias.
As famílias menos favorecidas têm acesso à cesta de produtos, porém, muitas vezes não conseguem ter uma alimentação mais equilibrada, com maior quantidade e diversidade de produtos como frutas, legumes e cereais.
Outro problema seria o de habitar áreas mais pobres, de maior concentração populacional, com menos espaços destinados ao lazer e a prática de esportes.
Estudos brasileiros mais recentes estimam sobrepeso em escolares e adolescentes na ordem de 15-20% e obesidade ao redor de 10%; isso independe da renda familiar e da condição social.
Porque há tanta obesidade atualmente?
Na obesidade estão envolvidos alguns fatores, como os genéticos e também os ambientais.
Entre os ambientais, destacam-se a ingestão energética excessiva, excesso de comida,
e a atividade física diminuída.
O estilo de vida moderno faz com que as crianças tenham menor disponibilidade de manterem atividades físicas e de lazer ao ar livre.
Muitas das brincadeiras e jogos coletivos foram substituídos por um tempo excessivo em frente das telas de celulares, tablets, notebooks e TV.
Os jogos eletrônicos são uma realidade mesmo para crianças de pouca idade.
E as nossas cidades são inseguras para as crianças brincarem mais livremente, sem assistência direta dos pais ou de cuidadores.
Agrega-se a isso tudo um tipo de alimentação que prestigia alimentos industrializados altamente processados que já contém elevados índices de açúcares e gorduras.
O consumo exagerado desses produtos promovem uma mudança na produção de hormônios ligados ao prazer.
São vários hormônios que controlam a saciedade, sendo a leptina e dopamina sinalizadoras para as áreas do cérebro que regulam a fome.
Assim, começa um processo de compulsão alimentar, estabelecendo-se um vício de comer exageradamente.
O estilo de alimentação familiar foi parcialmente substituído por lanches rápidos muito calóricos, sucos prontos e pouca ingestão de frutas frescas, legumes e hortaliças.
Como evitar a obesidade infantil desde cedo?
“Não há como intervir em fatores genéticos determinantes de obesidade”, afirma o pediatra Mauro Toporovski.
“Portanto, a prevenção da mesma passa a ser muito importante com o objetivo de manter uma relação peso para altura ainda em índices normais”, explica o coordenador-geral da Clínica de Pediatria Toporovski.
O aleitamento materno já exerce uma ação preventiva contra a ocorrência de obesidade, pois o perfil de proteínas do leite humano permite uma programação metabólica mais adequada facilitando a “queima de gordura” mesmo anos mais tarde.
As fórmulas lácteas hoje em dia tentam se aproximar desse perfil proteico do leite humano.
Evita-se dietas com altos teores de açúcar e alimentos refinados, procurando desde cedo, ainda no primeiro ano de vida, instituir uma alimentação equilibrada, contendo grãos, fibras, frutas e legumes em quantidades corretas.
As refeições devem ser bem distribuídas e, de preferência, realizadas juntos aos familiares.
As crianças devem prestar atenção ao que estão consumindo e não ficarem em frente à TV, tablets ou celulares durante as refeições.
É importante o ensinamento e desenvolvimento do conceito de saciedade para as crianças, orientando que uma porção de cada grupo já é o suficiente e que não há necessidade de repetições.
Também é muito importante evitar lanches calóricos nos intervalos das refeições.
Promover atividades para que as crianças possam brincar em espaços mais amplos, para que gastem energia, também é extremamente positivo. As crianças pequenas devem brincar livremente!
Crianças maiores já podem realizar algum treinamento esportivo algumas horas por semana. O esporte a ser praticado deve ser do gosto da criança ou adolescente, como futebol, basquete, tênis, vôlei, natação, etc.
A obesidade que surge na infância é mais perigosa?
As crianças que de certa forma são mal controladas na primeira infância, já quando apresentam inadequação do peso aos 4 anos de idade, têm risco aumentado de permanecerem obesas durante toda a infância e chegam com frequência à adolescência igualmente obesas.
Os riscos de obesidade na idade adulta aumentam muito, pois 75-80% dos adolescentes obesos acabaram tornando-se adultos obesos.
A obesidade pode afetar crianças e adolescentes em todo o mundo e pode ter um impacto ao longo de toda a vida.
A obesidade infantil está associada a complicações relacionadas ao peso, conforme listado abaixo e, em alguns casos, à morte prematura na idade adulta.
Diabetes Tipo 2
Ter excesso de peso durante a infância está associado a um risco aumentado de diabetes na idade adulta. Podem, já durante a infância, iniciar alterações da regulação do açúcar no organismo (glicemia) e da secreção de insulina.
Distúrbios Cardiovasculares
Crianças e adolescentes obesas são mais propensas a terem múltiplos fatores de risco cardiovascular, em comparação com aqueles sem obesidade.
Já durante a infância, podem apresentar placas de gordura na parede das artérias (aterosclerose), que evolui de forma silenciosa durante a infância e adolescência. Mas pode ocasionar, na idade adulta, risco para doença coronariana, acidente vascular cerebral e para o lado renal, hipertensão arterial e alterações no funcionamento dos rins.
Apneia obstrutiva do sono
Constitui alterações no ritmo respiratório durante o sono. Crianças e adolescentes obesos, devido a distensão do abdome, apresentam restrição da respiração ocasionando esforço respiratório e, por vezes, parada respiratória por alguns segundos durante o sono (denominado apnéia).
Os obesos, com frequência, não conseguem aprofundar o sono e, muitas vezes, apresentam cansaço físico durante o dia, sonolência e falta de concentração.
Problemas ortopédicos
São comuns as queixas de dores na coluna e joelhos, determinados pelo excesso de peso. A sobrecarga reflete-se muitas vezes no quadril, determinando alterações nas articulações, o que resulta em dores e incapacidade de acompanhar as atividades esportivas entre os amigos.
A obesidade pode determinar para a criança ou adolescente um impacto psicológico?
O impacto psicológico é maior em crianças com obesidade, pois elas são frequentemente provocadas ou intimidadas por seu peso. São comuns ofensas, piadas e atitudes provocativas, o que contribui para o isolamento social das crianças e adolescentes obesos. Há, infelizmente, ocorrência de “bulling” nas escolas contra aqueles que são obesos.
Qualidade de Vida (QV) – Problemas de ordem física e sociais se somam para crianças e adolescentes obesos e levam a uma baixa QV, gerando graves repercussões.
Como devem ser orientados os exercícios físicos e musculação para o adolescente obeso?
Esse é um aspecto importante na programação desse tipo de atividade.
A capacidade de execução e performance nos exercícios está em geral diminuída de acordo com o grau de obesidade. Portanto, toda a programação deve ser planejada de maneira gradativa, observando-se a performance durante a atividade.
São colocadas metas e, aos poucos, elas vão sendo cumpridas. Palavras de estímulo devem fazer parte do vocabulário a cada degrau que se vai atingindo.
Um educador físico deve estar presente quando possível para esse tipo de acompanhamento. O adolescente obeso quando inicia trabalho de musculação tende a exagerar na carga dos exercícios, resultando em aumento das lesões de músculos e articulações que já tem uma sobrecarga determinada pelo excesso de peso.
Para evitar esse problema, a mensuração de carga e repetição dos exercícios deve ser planejada pelo profissional da área e não por si mesmo ou por influência de amigos.
Qual deve ser a atitude dos pais frente às crianças e adolescentes obesos?
Os pais devem, quando possível, participar do tratamento da obesidade de seus filhos. A melhor contribuição seria o de dar bons exemplos, ou seja, tentar participar do momento das refeições, preparando o prato para consumo de forma equilibrada e com alimentos de bom valor nutricional, evitando, igualmente, açúcares e guloseimas.
O outro aspecto, seria o de promover e incentivar as práticas de atividades esportivas lúdicas juntos aos filhos e amigos dos mesmos, levando para caminhadas, bicicleta, brincadeiras ao ar livre e aquáticas, quando possível.
Clínica de Pediatria Toporovski: (11) 3821-1655