Um assunto muito importante na psiquiatria é o transtorno de ansiedade na infância e na adolescência.
Em primeiro lugar, cabe a pergunta: quem nunca sofreu com dor de barriga antes de uma prova importante na escola ou taquicardia (palpitação) ao se dar conta que não teria tempo suficiente para entregar um trabalho?
A ansiedade é como um motorzinho que nos move, se não ficamos ansiosos, não nos preparamos adequadamente para determinada tarefa.
Mas, em alguns momentos, a ansiedade pode se tornar excessiva e trazer prejuízos para a nossa vida, em vez de benefícios.
Na psiquiatria, tem sido cada vez mais frequente os casos de transtornos de ansiedade na infância e na adolescência.
Os primeiros relatos de casos clínicos de ansiedade em crianças são do início do século XX.
Em 1909, Freud publicou o caso do pequeno Hans, um menino de cinco anos que apresentava um quadro de neurose fóbica.
Dois termos são importantes para compreender o tema:
– Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real
– Ansiedade é a antecipação de ameaça futura
Os transtornos de ansiedade são caracterizados por medo ou ansiedade em excesso e duração além do esperado.
É importante lembrar que sintomas de doenças podem ser vistos em todas as crianças, porém o transtorno em si necessita de critérios diagnósticos bem estabelecidos e de prejuízo em alguma área da vida.
Muitos dos transtornos de ansiedade se desenvolvem na infância e tendem a persistir se não tratados.
Transtornos de ansiedade podem atingir até 10% das crianças
Dentre os problemas de comportamento na idade escolar, os transtornos ansiosos são os mais comuns, podendo acometer até 10% das crianças e adolescentes.
Diferentemente dos adultos, as crianças podem não reconhecer seus medos como exagerados ou irracionais, especialmente as menores.
Também é mais comum que apareçam sintomas indiretos como dores inespecíficas, alterações gastrointestinais, em vez de queixas claras de ansiedade ou preocupação.
A proporção de ansiedade entre homens e mulheres costuma ser equivalente, (exceto fobias específicas, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de pânico, que têm predominância no sexo feminino).
Os principais transtornos de ansiedade são:
Transtorno de Ansiedade de Separação
Sofrimento excessivo e recorrente ao se afastar de casa ou de figuras importantes de apego (principalmente os pais).
Esses sintomas se desenvolvem com frequência na infância, mas também podem aparecer na idade adulta.
Nesse caso, as crianças se preocupam com o bem-estar ou a morte de figuras de apego, principalmente quando separados delas, e querem saber onde e como estão estas pessoas, quando não estão juntos delas.
Da mesma forma, também têm muito medo de se perder, serem sequestradas ou sofrer um acidente, ficando assim distante dos pais.
É bastante comum que tenham medo de ficar sozinhos ou sem os pais em casa ou em outros ambientes, ou têm medo de ir até um quarto sozinhos, sendo a “sombra” dos pais por onde vão, podem ter medo de dormir sós ou fora de casa (como acampamentos, casa de amigos, etc.), gerando importante prejuízo social.
Sintomas físicos como dor abdominal, dor de cabeça, náusea, palpitação e tontura podem acontecer na iminência da separação.
O início do transtorno de ansiedade de separação pode ocorrer em idade pré-escolar e em qualquer momento durante a infância e, mais raramente, na adolescência.
Mutismo Seletivo
É um transtorno relativamente raro, com impossibilidade para falar em situações sociais em que se espera que se fale (por exemplo na escola), mesmo que o indivíduo se expresse em outras situações.
Essa dificuldade traz prejuízos acadêmicos ou profissionais e interfere na comunicação com as pessoas e possível avaliação de competência (ex: avaliação oral na escola, leitura).
Não iniciam uma conversa ou respondem quando os outros falam com elas ou podem se comunicar por gestos, escrevendo, etc.
Tudo isso gera uma intensa ansiedade social para o indivíduo e aos que estão ao seu redor.
Fobia específica
Medo ou ansiedade intensos de um objeto ou situação, como voar, alturas, animais, tomar injeção, ver sangue, etc.
Neste caso, a pessoa tenta, de todas as maneiras, evitar o contato com a situação que lhe causa medo (por exemplo, fazer um caminho mais longo para evitar o objeto da fobia).
O medo ou a ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real apresentado pelo objeto ou situação, ou mais intenso do que é considerado necessário.
As crianças devem apresentar prejuízo em uma ou mais áreas da vida para que seja feito o diagnóstico (por exemplo, perder uma prova da escola por não sair de casa em dia que possivelmente irá chover, quando se tem fobia de chuva).
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social)
Medo ou ansiedade acentuados em situações sociais, nos quais a pessoa se sente exposta ou avaliada por outras pessoas, como conversar, encontrar pessoas que não são familiares, ser observado comendo e situações de desempenho diante de outros, como dar aulas.
O medo é o de ser avaliado negativamente pelos outros, como ser humilhado ou ofendido ou de demonstrar seu nervosismo por sintomas físicos como vermelhidão na face, tremor, transpirar, etc.
Nas crianças, o medo ou a ansiedade devem ocorrer em interações com os pares e não com adultos e, na maior parte das vezes, podem aparecer como choro, ataques de raiva, comportamento de agarrar-se ou encolher-se em situações sociais.
Transtorno de Pânico

Os transtornos de pânico são ataques súbitos de medo ou desconforto intenso que atingem um pico em poucos minutos, acompanhados de sintomas físicos (taquicardia, suar frio, falta de ar, tremor, etc) e/ou cognitivos (sensação de morte ou de perda de controle) ou choro incontrolável.
Estes transtornos podem acontecer de maneira esperada ou inesperada, ou seja, com ou sem fator desencadeante.
É bastante comum que ocorra um comportamento de evitar situações que possam levar a crises como sair de casa, usar transporte público, etc, trazendo grande prejuízo funcional.
Agorafobia
Medo destas seguintes situações: usar transporte público; estar em espaços abertos; estar em lugares fechados; ficar em uma fila ou estar no meio de uma multidão; ou estar fora de casa sozinho em outras situações. O medo principal é de passar mal e não poder sair desses locais ou de não poder ser socorrido, caso seja necessário.
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Ansiedade e preocupação persistentes e excessivas em várias áreas da vida, incluindo desempenho no trabalho e escola.
Podem aparecer sintomas físicos, como inquietação, dificuldade de concentração ou “ter brancos”; irritabilidade; tensão muscular e alteração de sono.
Os sintomas em geral são desproporcionais ao fator que os originou.
As crianças com o transtorno tendem a se preocupar excessivamente com seu desempenho (por exemplo na escola, em esportes) e as preocupações podem se alternar.
É importante lembrar que é preciso um “prejuízo” em alguma área da vida (escolar, social, familiar) para que seja feito o diagnóstico.

A Dra. Danielle Admoni, consultora da Clínica Pediátrica Toporovski na área de psiquiatria infantil e do adolescente, afirma o seguinte. “Os transtornos de ansiedade são bastante frequentes na infância e adolescência e merecem um olhar especial na área da saúde e educação, uma vez que podem causar bastante prejuízo aos que sofrem e aos que estão a sua volta”.
Esses quadros, se não tratados e cuidados adequadamente podem persistir na vida adulta, trazendo prejuízos ainda maiores e associações com outras patologias psiquiátricas.
Daí a importância de um tratamento adequado com profissionais da saúde mental como psiquiatra e/ou psicólogo da infância e adolescência.
Clínica de Pediatria Toporovski: (11) 3821-1655
2 Comments
Elaine
Maravilhoso este artigo, informações de grande valor. Parabéns. Excelentes profissionais nos auxiliando e nos ensinando como mãe sou muito grata.
Kesher Conteúdo
agradecemos muito pelos elogios!!!