A intolerância alimentar é uma reação adversa. Ela pode ocorrer por aversão a um alimento (problema de palatabilidade); por causa de uma alergia (mecanismo imunológico) e no caso de intolerância à lactose (deficiência de uma enzima que hidrolisa a lactose). Nos consultórios médicos pediátricos, é comum a queixa dos pais sobre as crianças com intolerância à lactose.
Esse assunto causa bastante ansiedade à família, já que está absolutamente ligado ao hábito de tomar leite e comer seus derivados, comuns na alimentação da criança.
Somos mamíferos, assim sendo um recém-nascido é adaptado nos primeiros dias de vida a absorver a lactose, o açúcar do leite materno.
Ao nascer, um bebê possui nas células do intestino delgado altas concentrações de lactase, que é a enzima que facilita a digestão e absorção da lactose do leite humano.
Portanto, as crianças nos primeiros anos de vida normalmente não apresentam intolerância à lactose.
A denominada deficiência congênita de lactase só é descrita em poucas famílias de origem finlandesa.
Crianças pequenas podem apresentar intolerância à lactose?
Sim, isso pode ocorrer quando há um processo diarreico mais prolongado e grave, caracterizando a intolerância à lactose secundária.
Nestas situações, há danos na mucosa intestinal e redução da atividade enzimática. Em geral, o lactente apresenta piora do processo diarreico ao receber a dieta láctea.
Esse processo é transitório e dura alguns dias. Quando acaba a diarreia, há uma recomposição do epitélio intestinal e uma volta à capacidade normal de digerir a lactose.
As pessoas confundem os conceitos de alergia à proteína do leite de vaca e intolerância à lactose?
Os termos “alergia à proteína do leite” e “intolerância à lactose” não são sinônimos e é bastante comum ocorrer a confusão entre eles, não só entre os familiares, mas também com alguns profissionais de saúde.
Na alergia ao leite, a reação se dá contra as frações proteicas do mesmo, sendo de caráter imunológico.
Uma ingestão, mesmo em pequenas quantidades, pode determinar uma reação chamada de imediata, em minutos ou até 2 horas após a mesma.
Esta reação é de forte intensidade, em geral, onde observam-se manifestações digestivas, como vômitos, cólicas e diarreia, reações cutâneas como urticária ou eczema e em alguns casos, até mesmo reações respiratórias.
Em situações mais graves, mais raras, pode ocorrer o chamado choque anafilático, situação de extrema emergência.
Em bebês, nos primeiros meses de vida, a alergia pode ser, da mesma forma, de caráter mais tardio, ou seja, demorar horas ou alguns dias para ocorrerem os sintomas, especialmente os digestivos (refluxo gastroesofágico, cólicas, diarreia ou sangue nas fezes).
Quando as crianças passam a apresentar a intolerância à lactose? Isso é comum?
A intolerância chamada ontogenética à lactose é muito comum em algumas populações, decorrente da redução dos níveis da enzima lactase no intestino delgado.
O processo, em geral, tem início após os 6 anos de idade e com o passar do tempo, os sintomas passam a ser mais marcantes, especialmente em adolescentes e no início da idade adulta.
Algumas famílias têm esse padrão enzimático e cabe ao pediatra perguntar e verificar essa ocorrência, especialmente quando as crianças já passam a manifestar sintomas de intolerância.
Quais são os sintomas de intolerância à lactose?
Os sintomas têm relação com a quantidade de leite e derivados que foi ingerida.
Quando a lactose não é absorvida no intestino delgado, passa ao intestino grosso, onde sofre um processo de fermentação determinado pelas bactérias que compõem a flora intestinal.
Neste processo, há formação de gases e acúmulo de líquidos, que determinam cólicas, flatulência, diarreia e distensão abdominal.
Nem todas as pessoas intolerantes à lactose apresentam os mesmos sintomas.
Há indivíduos intolerantes que conseguem ingerir um copo de leite sem apresentar nenhum mal-estar, enquanto outros não toleram nem quantidades mínimas.
Existem vantagens em manter para as crianças alguma ingestão de lactose, pois a sua presença facilita a absorção de ferro e cálcio, importantes tanto para a nutrição como também para o crescimento.
Algumas crianças são submetidas a restrições dietéticas desnecessárias pois poderiam tolerar pequenas quantidades de alimentos que contém lactose, tais como queijos, iogurtes e mesmo pequenos volumes de leite de vaca, garantindo assim quantidade suficiente de nutrientes.
Veja a tabela abaixo – quantidade de lactose por 100 gr do alimento lácteo
Como se faz o diagnóstico de intolerância à lactose?
Pode-se estudar o perfil genético de intolerância à lactose (mutação gen 13910). Os fenótipos TT ou CT indicam tolerância, ou seja: a criança em questão não apresentará durante a vida intolerância à lactose.
O fenótipo CC corresponde a um marcador de intolerância à lactose, sendo este apenas o marcador genético, que pode ou não se manifestar durante a vida.
Para o diagnóstico efetivo deve-se pedir uma prova de sobrecarga de lactose, onde após a ingestão de quantidades da mesma, dosa-se a variação da glicemia durante 120 minutos (a lactose bem absorvida determina aumento da glicemia durante a prova).
Outra forma de detectar a intolerância é dosar o hidrogênio no ar expirado após a sobrecarga de lactose. Quando não é totalmente absorvida no intestino delgado, a lactose chega no intestino grosso e no processo de fermentação produz hidrogênio, que passa para os capilares sanguíneos e vai até os pulmões onde é excretado no ar expirado.
Essas provas são de difícil execução para as crianças pequenas.
“Normalmente, pedimos, durante algumas semanas, para fazer a isenção de lactose da dieta, observando melhora dos sintomas e posterior reintrodução da mesma com nova piora da sintomatologia”, esclarece o Dr. Mauro Toporovski.
“Não se recomenda a exclusão total da lactose da dieta, porque além de servir como substrato para a microbiota intestinal, pode ocasionar sérios prejuízos nutricionais de vitaminas e sais minerais”, explica o pediatra, coordenador-geral da Clínica de Pediatria Toporovski.
Quando não existe orientação correta, algumas crianças ficam expostas a restrições dietéticas muito restritivas que são, diversas vezes, desnecessárias.
Da mesma forma, os pequenos podem acabar não ingerindo quantidade suficiente de nutrientes para o seu dia a dia.
Orientações dietéticas para as crianças que desenvolvem intolerância à lactose
Há de se observar o quanto essa criança apresenta de sintomas ao ingerir os produtos lácteos.
Existem pacientes que toleram até um copo de leite, ingerido junto com alimentos como pão ou bolachas, outros apresentam baixa tolerância e a passam a apresentar sintomas adversos digestivos, com pequenas porções dos produtos lácteos.
Para eles, há opções no mercado, como leites e derivados, como iogurtes sem lactose. “Outro contingente de crianças e adolescentes com intolerância à lactose, adaptam-se bem com o uso de comprimidos ou saches da enzima lactase, ministrados alguns minutos antes da ingestão dos produtos lácteos. A dose é individualizada e depende da capacidade de adaptação de cada indivíduo”, afirma o Dr Mauro.
Clínica de Pediatria Toporovski: (11) 3821-1655