Uma grande dúvida alimentar que os pais trazem com frequência aos consultórios de pediatria diz respeito ao açúcar. Na verdade, a pergunta deles é: crianças devem evitar o açúcar?
Pois bem: não há uma resposta definitiva para este questionamento. “Por isso, é importante separar as crianças por grupos etários”, afirma a Dra Vanessa Castro, nutricionista, mestre na disciplina de nutrição pela Escola Paulista de Medicina, UNIFESP, e colaboradora da Clínica de Pediatria Toporovski.
De 0 a 2 anos de idade
Para o grupo dessa faixa etária, a recomendação é de não oferecer açúcar, nem alimentos que contenham açúcar. Os motivos são vários.
Em primeiro lugar, os bebês nascem com predisposição a gostar mais de alimentos doces e a oferta de açúcar pode reduzir a aceitação do leite materno e reforçar ainda mais a preferência por esse sabor, potencializando o desenvolvimento de maus hábitos alimentares e suas consequências, como obesidade e diabetes.
Bebês não escovam os dentes com frequência, assim o consumo do açúcar pode predispor ao desenvolvimento precoce de cáries e de uma flora bucal propícia a este problema.
É importante ter em mente que, nessa fase, o açúcar é totalmente desnecessário, pois a glicose pode ser obtida pelo leite materno, na sua ausência pelas fórmulas infantis; e pelas frutas, vegetais, cereais e feijões introduzidos a partir dos 6 meses de idade.
A partir dos 2 anos de idade
Nesta fase, o açúcar ainda é desnecessário. Porém a criança passa a conviver e comer fora de casa com maior frequência, e inevitavelmente terá contato com alimentos contendo açúcar.
De qualquer forma, ainda vale a pena tomar algumas medidas para evitar que a criança desenvolva preferência ou mesmo compulsão alimentar por doces.
Veja as dicas do pediatra, Dr. Mauro Toporovski, e também da nutricionista Vanessa.
Procure limitar o consumo de açúcar ou doces a pequenas quantidades: uma vez por dia para crianças e 1 a 2 vezes por dia para adolescentes.
Açúcar demerara, mascavo, de coco, mel, orgânico e outros com apelo “natural” têm menor processamento, porém vão estimular a preferência por alimentos doces e “engordar” do mesmo jeito que o açúcar refinado.
Ou seja, todos esses açúcares devem ser evitados ou consumidos com moderação.
Para checar se os alimentos industrializados contêm açúcar, verifique a lista de ingredientes da rotulagem.
Essa lista é organizada em ordem decrescente de grandeza. Ou seja: o primeiro ingrediente é o que está mais presente, em maior quantidade no produto, seguido do segundo, e assim por diante.
Evite os alimentos que têm o açúcar como um dos primeiros ingredientes da lista. Desconfie até de alimentos aparentemente “inofensivos”, como água de coco, sucos orgânicos, barrinhas de cereais, cereais matinais e infantis, biscoitos integrais, granola, iogurte, leite fermentado e chocolate com cacau 70%.
Evite ter alimentos com açúcar na despensa e na geladeira, para não estimular o consumo rotineiro. Compre apenas quando houver intenção de consumir.
Prefira o consumo das frutas ao invés dos sucos. Ao comer as frutas, a criança ingere suas fibras, mastiga, e todo esse processo contribui para que se sinta saciada.
Bebidas doces não fazem bem para a saúde: crianças devem evitar o açúcar?
Evite oferecer bebidas doces, como refrigerantes, chás, água de coco e sucos naturais, mesmo que não tenham adição de açúcar.
Os “açúcares líquidos” dão pouca saciedade, levando a criança a ingerir mais alimentos e calorias acima das suas necessidades.
O consumo de apenas 70 a 160kcal a mais por dia já é suficiente para promover ganho de peso excessivo.
Além disso, o consumo de bebidas doces, incluindo sucos naturais, aumenta o risco de desenvolver intolerância à glicose e resistência insulínica, alterações que se não tratadas, levam à diabetes.
Para hidratação, ofereça bastante água nos intervalos entre as refeições.
Volume máximo para ingestão diária de suco natural recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Academia Americana de Pediatria.
Idade | Recomendação para ingestão diária máxima de suco natural |
0 a 1 ano | Não recomendado |
1 a 3 anos | 115ml / dia |
4 a 6 anos | 115 a 170ml / dia |
7 a 18 anos | 225ml / dia |
Volume de suco associado ao desenvolvimento de obesidade | 340ml / dia |
Evite oferecer refrigerantes, pois além do açúcar, têm alta concentração de sódio, favorecendo a sede e o aumento do consumo.
Os refrigerantes fosfatados também favorecem a desmineralização óssea e dentária, além de aumentar a excreção urinária de cálcio.
Outro ponto negativo é a presença da substância 4-MI (4-metil-imidazol), um subproduto do corante caramelo IV muito usado nos refrigerantes e classificado como possivelmente cancerígena.
O Centro de Pesquisa do Center for Science in the Public Interest, em Washington, liderou uma pesquisa que investigou a quantidade de 4-MI em latas de uma marca de refrigerante a base de cola (na versão original) vendidas no Brasil, Canadá, China, Emirados Árabes Unidos, EUA, México e Reino Unido.
De acordo com o estudo, a bebida comercializada no Brasil continha 267mcg de 4-MI em uma lata de 355ml. Essa concentração foi a maior identificada dentre todos os países pesquisados.
Os achocolatados contêm por volta de 90% de açúcar.
Mas, no momento de preparar, não temos essa percepção da enorme quantidade de açúcar que estamos adicionando ao leite. Assim, o ideal é utilizar cacau puro e adoçar o leite com seu açúcar habitual.
Deste modo, é possível ter maior controle e poderá, inclusive, iniciar um processo para reduzir ou mesmo eliminar o uso de açúcar em bebidas achocolatadas.
Evite iogurte adoçado: escolha os naturais
Evite os iogurtes e petit suisse adoçados. Compre iogurte natural sem açúcar e bata com frutas ou misture com frutas picadas para oferecer à criança.
Evite adoçar ou coloque o mínimo necessário de açúcar ou mel. Assim como no exemplo dos achocolatados, você terá maior controle e poderá, inclusive, iniciar um processo para reduzir ou mesmo eliminar o uso de açúcar.
Fuja dos alimentos diet/light ou com adoçantes!
Seu uso deve ser restrito a casos selecionados, como, por exemplo, pelas crianças que desenvolvem diabetes. Quando ingeridos, os adoçantes não indicam aos neurorreceptores cerebrais que foi consumido açúcar “real”, afetando a saciedade.
Por isso, é muito comum que quem utiliza muito adoçante tenha, em algum momento do dia, verdadeira compulsão por doces.
E lembre-se: o modelo de consumo dos pais é extremamente importante.
Se você planeja habituar seu filho a consumir pouco açúcar, implemente este hábito em sua vida também 😉
Um dado importante considerado pelo pediatra, Dr Mauro Toporovski, é o de imprintar para a crianças os sabores mais naturais dos alimentos, principalmente nos primeiros anos de vida.
Ou seja: o ideal é acostumar as crianças a aceitar os sabores naturais dos diferentes tipos de alimentos.
Faz parte na infância que as crianças possam tomar um sorvete, comer um pedaço de chocolate ou mesmo um brigadeiro.
Porém, esses produtos devem ser ingeridos poucas vezes, em determinadas ocasiões, e em quantidades limitadas. Ou seja: com bom senso.
Portanto, rotineiramente produtos com altos teores de açúcares não devem fazer parte da rotina dos cardápios na infância.
Clínica de Pediatria Toporovski (11) 3821-1655