As crises de birra são muito comuns na infância, principalmente entre os dois anos e os quatro anos de idade. Esta faixa etária é conhecida como a “adolescência da infância”. Por isso, há sempre a pergunta: na crise de birra: como agir? Principalmente quando lidamos com crianças nessa idade?
Em primeiro lugar, vale sempre lembrar que a criança que antes aceitava quase tudo, com certa dose de passividade, agora passa a ter mais autonomia e, com isto, ocorrem novas percepções e desejos e aí, ao ser contrariada, apresenta enorme frustração, gerando crises de choro, grito, ataques de raiva, entre outros comportamentos.
As crises de birra podem ser, até certo ponto, consideradas normais, porém o excesso e alguns tipos mais extremos de comportamento podem não serem certos.
São situações que, muitas vezes, testam nosso autocontrole, paciência e que não escolhem lugar ou ocasião, podendo gerar algum tipo de constrangimento.
Mas o que fazer nestas crises de birra? Como os pais devem agir?
É importante que os pais entendam que a criança nessa idade é simplesmente incapaz
de controlar suas emoções. Isso ajudará a ter um olhar mais construtivo, em vez
de achar que ela está desafiando a sua autoridade.
Não adianta achar que a criança está sendo malcriada e apenas dizer: “acalme-se”, porque seu cérebro ainda é incapaz de seguir esse comando. Cabe ao adulto ajudá-la a colocar seus sentimentos em palavras e a gerenciá-los.
Essa maturação do controle emocional no cérebro é gradativa durante a infância e a adolescência, podendo durar até o início da idade adulta.
Mas a fase mais crítica dessa “adolescência dos bebês” costuma passar por volta dos 4 anos de idade, quando as crianças aumentam o seu repertório para se expressar
corretamente no dia a dia e entender melhor o mundo.
Neste período, a maneira como os pais agem pode determinar um estigma, e isso representa algo muito importante para o futuro da criança, influenciando inclusive a sua personalidade na idade adulta.
Portanto, nós enquanto pais, nem sempre somos capazes de controlar como nossos
filhos irão reagir.
Contudo, somos capazes e temos que controlar a nossa própria reação, tentando manter a calma e o tom de voz baixo, atitudes que, certamente, ajudam a não elevar mais ainda a tensão.
A calma, a empatia e oferecer estratégias para essas crianças lidarem de forma
positiva, criam ferramentas para controlarem de forma mais apropriada as suas emoções – algo que a ajudará em toda a vida adulta.
Porém, se os pais se deixam levar pela raiva e se tornam somente punitivos, geram situações de extrema tensão, correndo o risco de perderem o controle emocional.
Seguem agora algumas dicas práticas da psicóloga Marcia Berman Neumann,
colaboradora da Clínica de Pediatria Toporovski.
Perdi o controle: e agora?
Perder o controle, às vezes, é algo normal e uma ótima situação para ensinar a assumir responsabilidades pelos seus atos, como quando a criança se joga no chão ou faz escândalo. Ou seja, quando a criança fizer birra.
Reconheça seu eventual erro, peça desculpas por ter gritado e se irritado, por exemplo, quando seu filho faz algo errado.
Diga que respirou fundo, acabou se acalmando, pensou melhor e que não é legal falar/agir assim.
Prevenir a briga
Existem alguns horários de sono e de fome onde sabemos que terá as crises de birras. Identifique padrões de comportamento para prevenir as crises. Pode ajudar muito, por exemplo, mudar o horário do banho ou da refeição caso seja bem na hora em que a criança começa a ter sono.
Se você sabe o que causou a crise de birra do dia anterior, também pode tentar impedi-la, no dia seguinte, com muita conversa, algo do tipo: “Lembra que ontem foi muito difícil a hora do banho? Vamos tentar tomar banho hoje sem chorar? A mamãe/o papai vai te ajudar!”
Escolher as batalhas
Evite entrar em batalhas desgastantes com as crianças. Se não interfere no funcionamento da família e não machuca ninguém, a recomendação é deixar para lá – por exemplo, se o seu filho decide sair de casa com uma camiseta que não combina com a calça.
Dar chances de escolha
“Para prevenir longas batalhas cotidianas e evitar que a criança faça o que ela quer e tome controle da rotina familiar (nas refeições, na hora de se vestir, na hora de sair), sugiro dar opções às crianças, que estão morrendo de vontade de exercer a sua autonomia”, ensina a psicóloga.
Dê sempre duas opções de escolha à criança e também estabeleça limites. A ideia é dar consequências a essas escolhas das crianças, mas desde que sejam apropriadas à situação. E também é importante ensinar a criança a lidar com a frustração.
Estabelecer os limites
Manter a calma não significa ceder aos desejos da criança, o que passaria a ela a mensagem de que “se eu fizer birra, conseguirei o que quiser”. Isso é: a birra é minha aliada”. Evidentemente isso está errado!
O que criança faz é simples: ela está testando o seu poder e as suas escolhas. Se os pais não mantêm o limite que definiram, o comportamento (de birra) continuará.
E é preciso mesmo impor limites no tempo que elas ficam diante da TV, dos tablets, ou em crianças que batem, porque certas coisas não são negociáveis.
Se a criança não quiser colocar o cinto de segurança no carro, por exemplo, coloque-o, seja impassível e siga adiante. Ela vai perceber aos poucos que, mesmo que não colabore, o cinto será colocado de qualquer jeito.
Não usar a violência
A violência tende a tornar as crianças mais raivosas e desafiadoras e os pais, mais punitivos. Isso, acaba gerando um ciclo vicioso. O mesmo vale para as agressões verbais.
No final, a criança só vai achar que não é amada pelo pais e vai sentir medo. Ela irá aprender a resolver suas questões em outros contextos assim também: agredindo e ameaçando.
É muito melhor uma conversa firme, em que os pais deem uma razão simples e fundamentada para o “não”. “Agora é hora de dormir, e não é hora de ficar no
tablet ou no celular”, usando, assim um vocabulário objetivo e adequado para
a idade da criança.
É fato que as crianças tendem a recuar diante de um tapa ou um grito, mas é por medo, e não por ter aprendido a controlar o seu sentimento.
As chantagens também vão pelo mesmo caminho, errado: “se você parar, eu te dou um doce”. Isso tem o mesmo efeito adverso: “A criança vai fazer pelo doce, pela recompensa, mas não vai aprender o valor do comportamento”.
Repetir e repetir
Todas estas dicas terão de ser repetidas algumas vezes até que sejam internalizadas por crianças tão pequenas. Ou seja, os pais têm que ter muita paciência.
Leva bastante tempo e exige bastante esforço até que os pais consigam gerenciar suas próprias reações (à birra). Mas a recompensa é enorme: virá na forma de maior autocontrole das crianças, mais cooperação nas tarefas diárias e ciclos de interação mais positivos.
É sempre bom lembrar que as crises de birra são um pedido de socorro, é a criança dizendo: não sei lidar com isso sozinha.
O Dr. Mauro Toporovski, pediatra e coordenador-geral da Clínica de Pediatria Toporovski, ressalta a importância dos pais assumirem uma postura coesa e firme para lidar com as crises de birra.
“Mudanças de atitudes causam um sentimento de instabilidade que reflete negativamente para o aprendizado e comportamento dos filhos. Realmente, muitas vezes, não é fácil atravessar a fase das crises de birra. Mas, com uma boa dose de paciência, perseverança e bom senso, as coisas acontecem”, afirma o médico.
“Eu, como pediatra, e a Dra Marcia, como psicóloga, nos colocamos à disposição para manter um canal aberto para discutirmos esse problema com vocês”.
Clínica de Pediatria Toporovski: (11) 3821-1655